Reestruturação do sistema bancário e uso de muita tecnologia provocam demissões e cada vez menos agências
Por: Redação CUT
Qual será o impacto da Indústria 4.0 no mundo de trabalho? As máquinas vão substituir os trabalhadores e trabalhadoras? Essas perguntas vêm sendo debatidas cada vez mais no Brasil e têm preocupado especialistas, representantes de sindicatos e movimentos sociais que defendem o emprego e a qualidade de vida da população. Só no setor bancário, a reestruturação provocada pelo uso de novas tecnologias aliada à reforma Trabalhista, já é responsável pela demissão de quase 64 mil trabalhadores e trabalhadores.
Os cinco maiores bancos do país aderiram fortemente à inteligência artificial e estão usando cada vez mais a tecnologia, principalmente via telefone celular, nos serviços oferecidos aos clientes.
“Eles querem cada vez mais tecnologias avançadas para pegarem um público mais jovem que é aquele público que pode perder a carteira assinada, mas não pode perder o celular. É um público totalmente digital que não quer ir para o banco”, afirma a economista e técnica da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Vivian Machado, que fez um estudo sobre a “Digitalização e a inteligência artificial no sistema financeiro: A indústria 4.0”.
O país tem hoje 230 milhões de celulares, são dois dispositivos por habitante, incluindo smartphones, computadores, notebooks e tablets, de acordo com a Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
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Essa disseminação de equipamentos tecnológicos que as instituições financeiras usam para prestar diversos tipos de serviços tem provocado uma onda de demissões de bancários, redução no número de agências eletrônicas e cada vez menos atendimento na boca do caixa. Os banqueiros chamam esse processo de reestruturação. Os trabalhadores sabem que o pesado investimento em novas tecnologias significa mais desemprego e os clientes também são prejudicados.
“A tendência mundial do mercado de trabalho será a informalidade”, disse Vivian durante apresentação do seu estudo na sede da CUT Nacional nesta terça-feira (29).
Para os bancos, o retorno é rápido e garantido
De acordo com o estudo, os bancos já gastaram R$ 97,7 bilhões desde 2014, especialmente em software (conjunto de componentes de um computador ou sistema de processamento de dados), mas o retorno é rápido e garantido. Só no ano passado, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa e Santander lucraram R$ 85,9 bilhões, um crescimento de 16,2% em relação a 2017.
Mesmo com o crescimento dos lucros, os bancos continuam com as demissões. De janeiro de 2013 à 2019, já foram 63.934 postos de trabalho fechados no setor, tanto por causa do avanço da digitalização quanto os efeitos da reforma Trabalhista do ilegítimo Michel Temer (MDB). Quando a nova lei entrou em vigor, a primeira providencia dos banqueiros foi anunciar Programas de Demissão Voluntária (PDVs) e outros tipos de contratos precários de trabalho legalizados pela reforma.
Menos agências, menos emprego, mais robôs e o povo?
A digitalização das operações bancárias também afetou com força a sobrevivência de agências e postos de atendimento – o negócio físico – de bancos como o Itaú, que fechou mais de 200 agências no primeiro semestre desse ano e deve continuar o processo de redução na rede de atendimento nos próximos meses. O Itaú também anunciou um PDV para funcionários com mais de 55 anos.
Para os bancos, o principal objetivo tem sido criar ferramentas que permitam ao cliente deixar de ir à agência, como é o caso da assistente digital, a BIA do Bradesco, que é a inteligência artificial que responde dúvidas dos clientes do banco. Para fazer propaganda do robô apelidado de BIA, o banco investiu milhões economizados com as demissões e colocou em horários nobres da televisão que custam fortunas.
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A digitalização de todas as transações bancárias, como depósito, transferência, saque, caixa eletrônico reciclador – é o depósito inteligente em que o cliente não precisa de envelope, a máquina reconhece a nota que cai automaticamente na conta do cliente -, acabou até com os cargos de bancários que trabalhavam na retaguarda.
“Isso já tira aquele bancário que trabalhava na retaguarda, que conferia esses envelopes antes de efetivar esses depósitos, diz a economista, que cita a BIA do Bradesco como um exemplo de inteligência artificial que substitui o trabalho humano.
De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2013, 47% das transações bancárias foram feitas por meio da internet ou por dispositivos móveis. Pelos caixas automáticos passaram 23% das operações. Isso teria modificado o papel das agências, que, no ano passado, foram responsáveis por apenas 10% dos negócios.